Apesar da pouca distância marítima entre o Atol das Rocas e o continente Sul-Americano (270 km de Natal-RN), esse conjunto recifal era pouco mencionado nas rústicas cartas náuticas do século XVI. Além disso, a conformação do atol, com rochas pouco maiores que a altura de uma pessoa, não facilita a visualização durante a navegação, e levou à ocorrência de frequentes naufrágios.

Mesmo com a crescente menção ao atol nos documentos náuticos ao longo dos anos, o número de acidentes intensificou-se devido ao aumento da frota mercante entre a América do Sul e a Europa.

Vários naufrágios deixaram destroços que podem ser observados no platô recifal durante a maré baixa, como âncoras, correntes, mastros, pedaços do casco, partes de motores, cerâmica etc. A colisão com o recife de um navio abastecido com carvão mineral fez com que sua carga se espalhasse pelo atol, e ainda hoje podem ser vistos blocos do material pelas praias.

A morte de vários dos navegantes acabou dando origem ao nome de uma das duas ilhas, Ilha do Cemitério, pois lá eram enterrados os corpos das vítimas.

Na tentativa de facilitar a visualização do Atol das Rocas à distância, foram plantados coqueiros que provaram ser ineficientes para essa finalidade, de forma que uma série de naufrágios de grande porte, principalmente da esquadra inglesa, ocorreu ao longo do século XIX.

A ideia de implantação de um farol foi levada adiante e para o atol foram transportados os materiais que constituiriam o maior entre todos os farois instalados até então na costa brasileira. Após uma análise mais minuciosa, decidiu-se que este farol seria inviável, pois necessitaria de uma base mais robusta que a prevista. As pedras que seriam utilizadas para sua construção foram deixadas no local e podem ainda ser vistas na linha da maré.

Finalmente, em 1883 um farolete instalado às pressas começou a operar no Atol das Rocas, o qual além de orientar os navegantes, deu o nome atual à outra ilha, Ilha do Farol. Após o início do funcionamento do farolete, foi necessária a presença de um responsável pela manutenção do equipamento, o chamado faroleiro, que passou a residir no atol, juntamente com sua família, numa casa de pedra com cisterna adjacente.

A experiência desses primeiros moradores fixos de Rocas foi inóspita, pois devido ao solo impróprio ao plantio e à inexistência de uma fonte de água doce no atol, eles dependiam do abastecimento provindo do continente – sem mencionar o isolamento e a solidão. O sofrimento dessas famílias findou-se em 1914, com o erguimento de um farol automático em treliça de ferro, substituído em 1935 por outro construído em alvenaria. Atualmente, opera um farol instalado em 1967; o antigo farol automático de alvenaria, bem como a casa do faroleiro, estão em ruínas, à mercê das ondas.

De qualquer forma, a sinalização do atol auxiliou na melhor navegabilidade nas águas do entorno, o quê, por sua vez, possibilitou a que mais e mais pescadores pudessem se aproximar e aproveitar da pesca farta. A abundância de peixes e lagostas atraiu a atenção do mercado pesqueiro, a ponto de uma empresa se instalar no local em 1937. O empreendimento não obteve êxito a longo prazo devido a não adaptação dos pescadores à vida num ambiente isolado e hostil e encerrou suas atividades dois anos depois. Apesar de não conseguir firmar uma iniciativa comercial fixa, o Atol das Rocas permaneceu por anos como ponto de pesca esporádico e profuso, porém sem regulamentação e controle.

As tartarugas marinhas, foco do nosso atual trabalho, foram ícone da desgovernança ambiental que ocorria em Rocas. Na segunda metade da década de 1970, estudantes de Oceanologia documentaram e expuseram à mídia e à sociedade a matança desses animais por pescadores que desembarcavam no atol. A divulgação desses episódios foi feita num momento propício para a criação de uma unidade de conservação, pois tomava corpo naquela época o movimento ambientalista no Brasil e a conjuntura política do governo militar considerava que as reservas eram parte da defesa territorial da nação.

Dessa forma, em 5 de junho de 1979 foi criada a Reserva Biológica do Atol das Rocas, a primeira unidade de conservação marinha do país. Uma Reserva Biológica (ReBio) é o tipo de unidade de conservação mais restritiva, limitando o seu uso apenas a pesquisas científicas. A ReBio do Atol das Rocas não se limita ao anel recifal, mas se alonga pela área oceânica até a isóbata de 1.000 metros. Atualmente é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Nos primórdios da ReBio os pesquisadores se instalavam em barracas armadas na Ilha do Farol. Subsequentemente, em 1993 foi construída uma pequena casa de madeira na mesma ilha, seguida em 2008 por um novo abrigo com dois quartos, sala e laboratório, rodeados por varandas. Há energia solar para iluminação e aparelhos básicos: geladeira, rádio, computadores e aparatos de pesquisa. Recentemente foi instalada uma rede wireless de internet que permite melhor comunicação com o continente.

As equipes de pesquisadores (de até 5 pessoas) revezam-se mensalmente, conduzidas por veleiro em uma navegação que dura em média 22 horas a partir da capital potiguar. A embarcação transporta para o atol água potável, alimentação e outros itens de necessidade básica, e retorna ao continente com todo o lixo lá produzido. Além do trabalho de pesquisa de cada equipe, são feitas manutenções na base de modo a deixá-la adequada para as próximas expedições.

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