Os sapos, rãs e pererecas sempre foram símbolo de ambientes saudáveis. O coaxar noturno que ecoa depois da chuva é mais do que um som familiar — é um indicador de equilíbrio ecológico. Mas esse coro tem ficado cada vez mais silencioso.

Nos últimos anos, pesquisadores brasileiros vêm observando um declínio preocupante nas populações de anfíbios, especialmente em regiões onde a seca tem se tornado mais intensa. O fenômeno não é isolado: as mudanças climáticas, impulsionadas pelo desmatamento e pela fragmentação dos habitats, estão transformando os ciclos naturais de chuva e temperatura, com impactos diretos sobre esses animais sensíveis.

Durante eventos de El Niño, por exemplo, a escassez de chuvas e o aumento das temperaturas reduzem as áreas alagadas e afetam o período reprodutivo de diversas espécies. Em 2014, uma seca severa no sul de Minas Gerais levou à queda drástica de populações inteiras — um alerta sobre o quanto o clima extremo pode desestabilizar ecossistemas locais.

Além da falta d’água, há outro inimigo em cena: o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, causador da quitridiomicose, uma doença que tem dizimado anfíbios em várias partes do mundo. Curiosamente, estudos apontam que o fungo muitas vezes age como um patógeno oportunista, atacando populações já fragilizadas por estresse ambiental — como a seca.

Ou seja, o problema é mais complexo do que parece: quando o clima muda, o equilíbrio se rompe, e o que era apenas uma oscilação natural se transforma em uma ameaça existencial.

Das quase 90 espécies avaliadas em pesquisas recentes, várias já apresentam risco crítico de extinção. Espécies como Hylodes mertensi e Hylodes sazimai — que habitam riachos de águas frias e cristalinas — estão entre as mais ameaçadas.

Manter o canto dos anfíbios vivo depende de mais do que chuva. Significa proteger as florestas, os cursos d’água e o clima que sustenta a vida. Cada poça que seca, cada mata desmatada e cada grau que o planeta aquece cobram um preço alto — o silêncio de espécies inteiras.

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